Mulher congolesa (foto: reprodução) |
E foi justamente a esse tipo de governantes que a presidente Dilma Rousseff
resolveu premiar com o perdão de 80% das dívidas a que me referi acima,
o que vai custar cerca de R$ 8 a cada brasileiro, valor extremamente
significativo se considerarmos que os movimentos de protesto que foram
às ruas do país nos últimos dias começaram por causa do aumento de R$
0,20 nas passagens de ônibus. Compraram, não pagaram, e o nosso governo
resolve socializar o prejuízo com o bolso de 190 milhões de brasileiros.
Dirão alguns,
principalmente os defensores de tudo o que é feito pelo governo
brasileiro nos últimos dez anos, que o perdão das dívidas é justo, já
que a maioria da população dos países envolvidos na discussão sobrevive
com menos de R$ 3 por dia, em regiões onde a expectativa de vida não
chega a 65 anos e a mortalidade infantil é três vezes maior que a das
áreas mais pobres do Nordeste brasileiro.
O grande problema, e
isso parece não ter sido pensado pelo governo brasileiro, é que os
presidentes do Congo-Brazzaville, Sudão, Gabão e Guiné Equatorial,
alguns de seus familiares e principais assessores enfrentam processos em
diferentes tribunais da Europa e dos Estados Unidos por múltiplas
acusações, entre as quais se pode destacar o roubo e o desvio de
dinheiro público, enriquecimento ilícito, corrupção, lavagem de dinheiro
e até genocídio, o que os fez entrar para o seleto grupo dos mais ricos
do planeta.
O mimo com o
dinheiro público brasileiro foi oficializado no dia 22 de maio último,
quando a nossa presidente pediu ao Senado uma autorização para
renegociar a dívida de R$ 793,3 milhões (US$ 352,6 milhões) que o
Congo-Brazzaville mantém com o Brasil desde a década de 70, informando
aos senadores, na mesma mensagem, o perdão de 79% da dívida, o
equivalente a R$ 630 milhões (US$ 280 milhões).
Na mesma semana, em Paris, investigadores franceses, cumprindo um mandado expedido pelos juízes parisienses Roger Le Loire e René Grouman, invadiram um galpão existente nas imediações do aeroporto de Orly, a 40 minutos da Torre Eiffel, pertencente à Franck Export,
transportadora de mercadorias na rota França-África e recolheram todos
os dados relativos aos registros contábeis da empresa e os repassaram
aos peritos. Não deu outra: a coleção de documentos apreendidos
comprovou a transferências de recursos do Departamento do Tesouro do
Congo diretamente para o caixa da Franck Export. Os registros
contábeis contavam uma história na qual o dinheiro saía de Brazzaville
por canais oficiais, fazia uma escala nas contas da transportadora
privada e em seguida desaparecia, pulverizado entre dezenas de contas
bancárias na França mantidas pela família do presidente congolês Denis Sassou Nguesso.
Denis Sassou Nguesso (foto: reprodução) |
Localizado no
coração da África Central, o Congo tem o tamanho de Goiás, uma renda per
capita (US$ 2,7 mil) semelhante à do Paraguai e uma população de quatro
milhões de pessoas, com expectativa de vida de 57 anos. Porque detém a
quarta maior produção no continente (300 mil barris/dia), é referência
no mapa africano de produção de petróleo, além de aparecer com destaque
na rota dos diamantes sem certificação de origem, os chamados de sangue,
que servem de moeda corrente no sistema de lavagem de lucros do
submundo de armas e drogas.
O tirano Nguesso
está no centro da política no Congo-Brazzaville há 45 anos. Chegou a
deixar o governo em 1992, mas retornou dez anos depois, escoltado por
tanques do Exército de Angola.
De acordo com um levantamento apresentado ao Tribunal de Paris pela Sherpa,
líder das organizações não governamentais francesas na denúncia
judicial, ele e a família são proprietários de 66 imóveis de luxo na
França, em áreas nobres do eixo Paris-Provence-Riviera, com destaque
para uma vila de 500 metros quadrados em Vésinet, a 16 quilômetros da Torre Eiffel; um apartamento de dez ambientes na rua de La Tour e outro de 328 metros quadrados na avenida Niel.
Nguesso e a mulher (foto: reprodução) |
Mesmo assim, aqui
no Brasil, inexplicavelmente, os nossos bravos e vigilantes senadores
aprovavam, sem nenhum debate, o milionário perdão da dívida do Congo,
cujo pagamento será honrado com o meu, o seu, o nosso suado e honesto
dinheirinho. Comentários?
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