| 13 Setembro 2012
Artigos - Governo do PT
Artigos - Governo do PT
Na
confusão geral das consciências, toda discussão racional se torna
impossível e então, naturalmente, espontaneamente, quase
imperceptivelmente, o centro decisório se desloca para as mãos dos mais
descarados e cínicos.
Todo mundo sabe que a base eleitoral do ex-presidente Lula, bem como a da sua sucessora, está nas filas de beneficiários das verbas do Fome Zero. Embora a origem do programa remonte ao governo FHC, o embrulhão-em-chefe conseguiu fundi-lo de tal maneira à imagem da sua pessoa, que a multidão dos recebedores teme que votar contra ele seja matar a galinha dos ovos de ouro.
No
começo ele prometia, em vez disso, lhes arranjar empregos, mas depois
se absteve prudentemente de fazê-lo e preferiu, com esperteza de
mafioso, reduzi-los à condição de dependentes crônicos.
O
cidadão que sai da miséria para entrar no mercado de trabalho pode
permanecer grato, durante algum tempo, a quem lhe deu essa oportunidade,
mas no correr dos anos acaba percebendo que sua sorte depende do seu
próprio esforço e não de um favor recebido tempos atrás. Já aquele cuja
subsistência provém de favores renovados todos os meses torna-se um
puxa-saco compulsivo, um servidor devoto do "Padim", um profissional do
beija-mão.
O
político que faz carreira baseado nesse tipo de programa é, com toda a
evidência, um corruptor em larga escala, que vive da deterioração da
moralidade popular. É impossível que o crescimento do Fome Zero não
tenha nada a ver com o da criminalidade, do consumo de drogas e dos
casos de depressão. Transforme os pobres em mendigos remediados e em
poucos anos você terá criado uma massa de pequenos aproveitadores
cínicos, empenhados em eternizar a condição de dependência e extrair
dela proveitos miúdos, mas crescentes, fazendo do próprio aviltamento um
meio de vida.
O
assistencialismo estatal vicioso não foi, porém, o único meio usado
pela elite petista para reduzir a sociedade brasileira a um estado de
incerteza moral e de anomia.
Na
mesma medida em que se absteve de criar empregos, o sr. Lula também se
esquivou de dar aos pobres qualquer rudimento de educação, por mais
mínimo que fosse, para lhes garantir a longo prazo uma vida mais dotada
de sentido. Durante seus dois mandatos o sistema educacional brasileiro
tornou-se um dos piores do universo, uma fábrica de analfabetos e
delinquentes como nunca se viu no mundo.
Ao
mesmo tempo, o governo forçava a implantação de novos modelos de
conduta – abortismo, gayzismo, racialismo, ecolatria, laicismo à outrance
etc. –, sabendo perfeitamente que a quebra repentina dos padrões de
moralidade tradicionais produz aquele estado de perplexidade e
desorientação, aquela dissolução dos laços de solidariedade social, que
desemboca no indiferentismo moral, no individualismo egoísta e na
criminalidade.
Por
fim, à dissolução da capacidade de julgamento moral seguiu-se a da
ordem jurídica: o novo projeto de Código Penal, invertendo a escala de
gravidade dos crimes, consagrando o aborto como direito incondicional,
facilitando a prática da pedofilia, descriminalizando criminosos e
criminalizando cidadãos honestos por dá cá aquela-palha, choca de tal
modo os hábitos e valores da população, que equivale a um convite aberto
à insolência e ao desrespeito.
Só
o observador morbidamente ingênuo poderá enxergar nesses fenômenos um
conjunto de erros e fracassos. Seria preciso uma constelação miraculosa
de puras coincidências para que, sistematicamente, todos os erros e
fracassos levassem sempre ao sucesso cada vez maior dos seus autores.
Tudo
isso parece loucura, mas é loucura premeditada, racional. É uma obra de
engenharia. Se há uma obviedade jamais desmentida pela experiência, é
esta: a desorganização sistemática da sociedade é o modo mais fácil e
rápido de elevar uma elite militante ao poder absoluto. Para isso não é
preciso nem mesmo suspender as garantias jurídicas formais, implantar
uma "ditadura" às claras. Já faz muitas décadas que a sociologia e a
ciência política compreenderam esse processo nos seus últimos detalhes.
Leiam,
por exemplo, o clássico estudo de Karl Mannheim, A estratégia do grupo
nazista (no volume Diagnóstico do Nosso Tempo, ed. Zahar). A fórmula é
bem simples: na confusão geral das consciências, toda discussão racional
se torna impossível e então, naturalmente, espontaneamente, quase
imperceptivelmente, o centro decisório se desloca para as mãos dos mais
descarados e cínicos, aos quais o próprio povo, atônito e inseguro,
recorrerá como aos símbolos derradeiros da autoridade e da ordem no meio
do caos. Isso já está acontecendo.
A
ascensão dos partidos de esquerda à condição de dominadores exclusivos
do panorama político, praticamente sem oposição, nunca teria sido
possível sem o longo trabalho de destruição da ordem na sociedade e nas
almas. Mas também não teria sido possível se o caos fosse completo. O
caos completo só convém a anarquistas de porão, marginais e oprimidos.
Quando a revolução vem de cima, é essencial que alguns setores da vida
social, indispensáveis à manutenção do poder de governo, sejam
preservados no meio da demolição geral.
Os
campos escolhidos para permanecer sob o domínio da razão foram,
compreensivelmente, a Receita Federal, o Ministério da Defesa e a
economia. A primeira, a mais indispensável de todas, porque não se faz
uma revolução sem dinheiro, e ninguém jamais chegará a dominar o Estado
por dentro se não consegue fazer com que ele próprio financie a
operação. A administração relativamente sensata dos outros dois campos
anestesiou e neutralizou preventivamente, com eficiência inegável, as
duas classes sociais de onde poderia provir alguma resistência ao
regime, como se viu em 1964: os militares e os empresários. Cachorro
mordido de cobra tem medo de linguiça.
Publicado no Diário do Comércio.
Nenhum comentário:
Postar um comentário