O governo brasileiro, com um histórico de censura na administração de
domínios, quer que os endereços de domínios mundiais sejam governados
mundialmente (hoje os EUA fazem esta tarefa), onde teria um poder de
censura muito maior.
Vimos alguns anos atrás quando o endereço do
site tijoladas do mosquito, blog catarinense que frequentemente fazia
denúncias ao governo estadual de SC e ao grupo RBS e que era registrado
no órgão brasileiro REGISTRO.BR, foi facilmente retirado do ar através
da "justiça". Sites com domínios no exterior (sem o .br), não são
facilmente censurados e perseguidos pelo governo brasileiro. Com a
possível aprovação do Marco da Internet, esta governança mundial de
domínios seria tudo que o governo brasileiro e as grandes corporações
precisam para vetar as vozes críticas que os denunciam através da
internet.
Vimos alguns anos atrás representantes brasileiros na
ONU clamando por regulamentação na rede. Agora que falta apenas o senado
para nos salvar do controle total da internet pelo governo através do
marco civil, nossos representantes já estão de olho na censura de
domínios.
Veja abaixo a matéria do
Portal Brasil:
Contexto é favorável a mudanças na governança da rede
Avaliação é do secretário de Política de Informática do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), que coordena evento
Conferência
Multissetorial Global sobre o Futuro da Internet (NETmundial) já parte
de um contexto favorável a mudanças na política de governança mundial da
rede. A avaliação é do secretário de Política de Informática do
Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Virgilio Almeida,
que coordena o encontro. Ele destaca dois fatos recentes: o anúncio
dogoverno dos Estados Unidos de que pretende abrir mão da governança da
rede em favor da comunidade global e a aprovação do marco civil da área
pela Câmara dos Deputados.
A NETmundial, marcada para 23 e 24 de
abril em São Paulo, tem participação confirmada de 80 países. No dia 14,
o Departamento de Comércio dos EUA comunicou oficialmente seu novo
entendimento sobre o assunto e pediu à Internet Corporation for Assigned
Names and Numbers (Icann – Corporação para Atribuição de Nomes e
Números na Internet) que construa um processo de transição nesse
sentido.
“Já é uma consequência positiva da organização da
conferência e de toda a movimentação mundial em que ela se insere”,
observa Virgilio. “O Brasil tem sido uma das nações que lideram esse
movimento por mais transparência e multissetorialidade, mas é uma
reivindicação da comunidade internacional praticamente inteira”.
O
secretário lembra que revelações recentes de espionagem reduziram a
confiança no atual modelo e argumenta que, devido à sua natureza
descentralizada, a internet não pode ser regulada em nível nacional.
“A
internet tem mais de 3 bilhões de usuários. É considerada hoje uma
tecnologia de uso geral, um elemento básico e essencial na vida de quase
todos os cidadãos e um componente chave na economia e nos governos dos
países”, observa. “Mas seu outro lado inclui ameaças de crimes
cibernéticos, ataques à liberdade de expressão e aos direitos humanos,
disputas jurídicas transnacionais e concentração de mercado e riquezas.”
Para
Virgilio Almeida, a revisão dos arranjos que organizam as funções e
recursos da rede mundial é vital para o fortalecimento do ciberespaço e
de seu uso para o desenvolvimento social e econômico de todas as nações.
O secretário deu entrevistas sobre o assunto à revista britânica The
Economist e à agência de notícias Reuters Brasil.
Mediação
Criada
em 1988, a Icann coordena o sistema de nomenclatura para a internet,
que ordena os nomes de domínios, evitando repetições e mediando
conflitos. Da mesma forma com os endereços IP. Com isso, atua como
elemento central na definição dos endereços que os computadores usam
para se interligar à rede.
A entidade nasceu como um projeto do
governo norte-americano e hoje é uma corporação de utilidade pública,
sem fins lucrativos, com sede na Califórnia. Está sujeita às leis dos
Estados Unidos.
Em 2012, o presidente da Icann – então
recém-empossado– disse que a instituição começava a ajustar seu modo de
atuar para chegar a um modelo contemporâneo e inovador e se tornar
efetivamente mundial, desvinculando-se do modelo tradicional
norte-americano.
Fadi Chehadé participou de reunião do Comitê
Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), coordenado pelo secretário do
MCTI, e se reuniu com a presidenta da República, Dilma Rousseff. Ele
elogiou o modelo brasileiro de governança, em que governo, empresas,
academia e terceiro setor têm representatividade e nenhum setor tem
maioria na composição da instância decisória.
A Icann começou sua
49ª reunião pública no domingo (23), em Singapura, com a previsão de
dar início à transição no sistema mundial.
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Vejam
bem, como o ICANN está sujeito às leis dos EUA, o governo brasileiro
não pode usar decisões judiciais tendenciosas ou (futuramente) o marco
civil para desabilitar domínios que contenham denúncias contra o governo
brasileiro ou contra corporações poderosas. Não seria demais imaginar
que uma mudança no controle do ICANN para um modelo global possa dar
maior abertura para os governos solicitarem a suspensão de domínios que
contenham críticas com base em leis nacionais.
Fontes:
- Blog Anti-NOM: Governo Brasileiro Quer Controle Global de Domínios para ter Maior Poder de Censura
- Portal Brasil: Contexto é favorável a mudanças na governança da rede
- Representante do Brasil na ONU propõe a criação de regras para a Internet em resposta ao Wikileaks
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